J'ACCUSE - O OFICIAL E O ESPIÃO, análise ao filme por Pedro Parreira
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    Foi com honra e prazer que aceitei o desafio do Cine-Clube da Ilha Terceira para apresentar, ao longo das próximas semanas, pequenas crónicas de opinião sobre osfilmes que integram a temporada O Cinema da Minha Vida. O cartaz, disponível digitalmente nos sítios habituais e, fisicamente, na sede da Sociedade Filarmónica de Instrução e Recreio dos Artistas, apresenta um desafiante conjunto de filmes, que certamente vão estimular novos horizontes cinematográficos junto dos amantes da Sétima Arte.

    Vivemos um tempo de novas normalidades. Regras apertadas e conflitos sociais cada vez mais exacerbados, que se imiscuíram no nosso quotidiano de forma aparentemente inevitável. Não será de estranhar que muitos, principalmente os mais novos, ou os que se esqueceram das páginas da história, pensem nestes tempos como algo que nunca antes a Humanidade experimentou. Um olhar atento pela longa e tumultuosa linha cronológica do mundo mostra-nos que tal não será uma verdade absoluta. O ser humano já passou por inúmeros e inenarráveis tempos de incerteza e de mudança social.

    J’Accuse, o mais recente filme do realizador Roman Polanski, traz-nos ao grande ecrã um evento que se pode enquadrar nessa categoria. Numa primeira instância, corresponde ao relato de uma história pessoal, com pormenores que roçam o autobiográfico, mas ao levantarmos o véu da memória coletiva, compreendemos que expõe um episódio já bem conhecido das páginas da história, que ajudou a abrir
caminho para os horrores que se abateram sobre a Europa, no começo do século XX.
O argumento de J’Accuse é baseado num romance histórico, da autoria de Robert Harris que, aliás, colaborou na adaptação do guião deste filme. Leva-nos a mergulhar na França de finais de oitocentos e assumir o papel de espetador, perante um dos mais complexos casos de enganos e desenganos judiciais alguma vez registados. Fala-se daquele que ficou conhecido como o “Caso Dreyfus”.

    Vamos ao encontro do capitão Alfred Dreyfus, descendente de famílias judaicas, membro de uma companhia de artilharia francesa, interpretado estoicamente pelo actor Louis Garrel. A narrativa vai-se desenrolando em torno de Georges Picquart, oficial de contra espionagem, que procura salvar Dreyfus da prisão onde fora colocado pelas autoridades francófonas, acusado de divulgar segredos de Estado junto de representantes da Alemanha. A situação revela-se bastante mais complexa, quando se apercebem que se trata de uma provável acusação falsa, com raízes profundamente anti-semitas. A partir daí, acompanhamos o julgamento, onde assistimos a uma luta pela verdade e pela justiça, entre um homem e uma nação enraizada no preconceito.

    J’Accuse é um filme que nos agarra, pela sua intensidade, de drama de tribunal, com laivos de policial, mas também pelos seus delicados momentos pessoais, e pela janela que abre para a França do século XIX. É um filme que merece ser visto com atenção, não só pela história de Dreyfus, mas também pela maneira como nos obriga a repensar os preconceitos da nossa sociedade, e a forma como a história pode teimar em repetir-se.

A sua exibição será, como habitual, na Sociedade Filarmónica de Instrução e Recreio dos Artistas, no próximo dia 4 de outubro, seguindo todas as normas de segurança da DGS, e com uma lotação máxima de 66 pessoas na sala. -  PP

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