YVONE KANE | 25 NOVEMBRO | 18H30 | RECREIO DOS ARTISTAS
"YVONE KANE" DE MARGARIDA CARDOSO

Yvone Kane: Reconstruir os Afetos
Depois
de ‘A Costa dos Murmúrios’, a realizadora Margarida Cardoso e a atriz
Beatriz Batarda juntaram- se novamente neste drama familiar de contornos
políticos, rodado em África, sobre os fantasmas da morte e da história
pós-colonial.
Rodado parcialmente em Moçambique, o último filme de Margarida Cardoso marca uma nova colaboração entre a atriz e a realizadora depois de ‘A Costa dos Murmúrios’, a impressionante adaptação do romance de Lídia Jorge, filme que marcou o primeiro cruzamento entre estes três talentos femininos e nacionais.
‘Yvone Kane’ foi agora escrito pela realizadora, num regresso a África para contar a história de uma ex-guerrilheira e ativista política, num país não especificado, assombrado por uma história pós-colonial, onde se cruzam uma mãe (Irene Ravache) e uma filha (Beatriz Batarda), que lidam, cada uma à sua maneira e por razões distintas, com os fantasmas da morte. Partindo dessas histórias pessoais, o filme centra-se no drama familiar, feminino e feminista; e depois, em sentido mais amplo, procura juntar, como num puzzle, os fragmentos de um país sem nome, destruído pelo legado da guerra civil pós-libertação colonial.
As duas mulheres são mãe e filha, mas tornam-se neste filme num exemplo de como os laços de sangue nem sempre correspondem aos laços afetivos. Sara (interpretada pela veterana atriz brasileira Irene Ravache) é uma médica branca, antiga guerrilheira, que lutou e apoiou uma revolução africana muito semelhante à revolução cubana. Uma sua amiga Yvone Kane, com que privou de perto, foi uma Che Guevara feminina local, que acabou mitificada depois de ter sido assassinada.
Rodado parcialmente em Moçambique, o último filme de Margarida Cardoso marca uma nova colaboração entre a atriz e a realizadora depois de ‘A Costa dos Murmúrios’, a impressionante adaptação do romance de Lídia Jorge, filme que marcou o primeiro cruzamento entre estes três talentos femininos e nacionais.
‘Yvone Kane’ foi agora escrito pela realizadora, num regresso a África para contar a história de uma ex-guerrilheira e ativista política, num país não especificado, assombrado por uma história pós-colonial, onde se cruzam uma mãe (Irene Ravache) e uma filha (Beatriz Batarda), que lidam, cada uma à sua maneira e por razões distintas, com os fantasmas da morte. Partindo dessas histórias pessoais, o filme centra-se no drama familiar, feminino e feminista; e depois, em sentido mais amplo, procura juntar, como num puzzle, os fragmentos de um país sem nome, destruído pelo legado da guerra civil pós-libertação colonial.
As duas mulheres são mãe e filha, mas tornam-se neste filme num exemplo de como os laços de sangue nem sempre correspondem aos laços afetivos. Sara (interpretada pela veterana atriz brasileira Irene Ravache) é uma médica branca, antiga guerrilheira, que lutou e apoiou uma revolução africana muito semelhante à revolução cubana. Uma sua amiga Yvone Kane, com que privou de perto, foi uma Che Guevara feminina local, que acabou mitificada depois de ter sido assassinada.

O compromisso político de Sara teve os seus custos igualmente no que diz
respeito a uma vida familiar normal: enviou os filhos para Portugal e
ficou em África, a trabalhar. No entanto, a luta de Sara já não é mais
política, mas antes contra um cancro terminal. A sua filha Rita (Beatriz
Batarda) é uma jornalista que vai investigar a morte de Yvone Kane.
Para isso, naturalmente regressa ao seu país de origem e à casa da sua
mãe. Se o fantasma da morte eminente paira sobre Sara, igualmente sobre
Rita existe a dor da perda recente da sua filha.
Desse ambiente pós-colonialista que envolve a história surge desde logo a fratura entre os locais e os colonizadores, o racismo e a impossibilidade de uma integração plena, da qual e apesar do seu espirito revolucionário Sara é o exemplo mais perfeito. Yvone Kane é por isso o retrato de um país marcado pelas tragédias humanas e por superações possíveis, que Margarida Cardoso filma com um certo fascínio e distância necessária, para fazer passar para o espetador o sentimento de estranheza e assombro dos personagens, sobretudo dessa relação mãe-filha.
De regresso a Moçambique, Margarida Cardoso, contou obviamente com o apoio de um grande artista local: o produtor, realizador e sobretudo extraordinário diretor de fotografia João Ribeiro que, em ‘Yvone Kane’, consegue tirar partido das paisagens e ambientes, aptando a sua beleza, fazendo sobressair os seus contornos mais trágicos: o hotel onde Rita acaba por se instalar é um verdadeiro símbolo do despojo e da reconstrução de um país depois da guerra.
Desse ambiente pós-colonialista que envolve a história surge desde logo a fratura entre os locais e os colonizadores, o racismo e a impossibilidade de uma integração plena, da qual e apesar do seu espirito revolucionário Sara é o exemplo mais perfeito. Yvone Kane é por isso o retrato de um país marcado pelas tragédias humanas e por superações possíveis, que Margarida Cardoso filma com um certo fascínio e distância necessária, para fazer passar para o espetador o sentimento de estranheza e assombro dos personagens, sobretudo dessa relação mãe-filha.
De regresso a Moçambique, Margarida Cardoso, contou obviamente com o apoio de um grande artista local: o produtor, realizador e sobretudo extraordinário diretor de fotografia João Ribeiro que, em ‘Yvone Kane’, consegue tirar partido das paisagens e ambientes, aptando a sua beleza, fazendo sobressair os seus contornos mais trágicos: o hotel onde Rita acaba por se instalar é um verdadeiro símbolo do despojo e da reconstrução de um país depois da guerra.
MARGARIDA CARDOSO

Filmografia
YVONE KANE, 2014
ATLAS, 2012
LICINIO DE AZEVEDO-CRÓNICAS DE MOÇAMBIQUE, 2011
SOB O OLHAR SILENCIOSO, 2011
O CÓDIGO DA VIDA DE A. DE MONTROND, 2008
ERA PRECISO FAZER AS COISAS, 2007
A BATALHA DE ALJUBARROTA, 2007
A COSTA DOS MURMÚRIOS, 2004
KUXA KANEMA- O NASCIMENTO DO CINEMA, 2001
COM QUASE NADA, 2001
NATAL 71, 2000 (cm).
DOIS DRAGÕES,1996 (cm).
ENTRE NÓS,1991 (cm).
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