Parasitas,
por Hugo Tiago





Este domingo, o Cineclube vai exibir o filme que uma semana antes surpreendeu o mundo, tendo arrebatado os Óscares de melhor filme internacional (galardão anteriormente conhecido como Óscar para ao melhor filme estrangeiro), melhor argumento original, melhor realização e melhor filme. Um filme inteiramente Sul Coreano, do elenco à equipe técnica, no ano em que toda a gente se queixava da falta de diversidade da Academia.
Temos então um filme do Sul Coreano Bong Joon Ho, que o público português poderá já conhecer de filmes como “Snowpiercer” (O Expresso do Amanhã, com Chris “Capitão América” Evans e Tilda Swinton) ou “Okja” (novamente com Tilda Swinton, a rainha do cinema independente).
Parasitas pode ser visto como um encontro entre “A Golpada” (George Roy Hill, 1973) e “O Criado” (Joseph Losey, 1963), mas importa dizer desde já, que neste filme nada é exatamente o que parece.
Importa primeiro falar um pouco sobre os chamados “Heist Movies”, histórias de enganos, encenações preparadas para enganar a designada vítima, para a espoliar de alguma coisa. As várias formas como este tipo de filmes nos são apresentados variam com o ponto de vista a partir do qual a história é contada (da vítima ou do burlão) e da informação que é disponibilizada ao espectador (se sabemos de tudo o que se está a passar desde o início, ou se somos surpreendidos no final, juntamente com a vítima).
Para quem goste deste tipo de enredo, recomendo a filmografia completa de David Mamet, que já trabalhou todas estas variações (recomendo “House of Games – Jogo Fatal”, ou “The Spanish Prisioner – O Prisioneiro Espanhol”).
No “Parasitas”, parece-nos que estamos perante um “Heist Movie” em que partilhamos toda a informação disponível, e podemos apreciar a forma como as vítimas estão a ser manobradas. Mas depois somos surpreendidos com uma história um pouco mais complexa do que se antevia.
Em “The Servant – O Criado” de Joseph Losey, temos um criado doméstico (Dirk Bogard no seu melhor, a par do “The Night Porter – O Porteiro na Noite”, de Liliana Cavani) que explora as fragilidades humanas do seu empregador para sobre ele ganhar um forte ascendente, da qual toma partido.
Também aqui, o “Parasitas” nos parece familiar. Mas só até certo ponto, porque a história é um pouco mais complicada do que parece.
E, subitamente, estamos perante um forte drama sobre desigualdade social, sem que o espectador tenha percebido como. Estava afinal distraído com o que lhe parecia um “Heist Movie”.
De assinalar que o título original (“Parasita”, no singular, em vez do plural “Parasitas”), evita encaminhar o espectador para conclusões precipitadas.  
Os cineastas Sul Coreanos têm vindo a notabilizar-se, quer com filmes produzidos localmente que conquistam grandes audiências internacionais, quer vindo trabalhar para mercados mais poderosos e, por vezes, apresentando obras inesperadamente internacionais (por exemplo, “Little Drummer Girl”, de Chan-Wook Park, autor de “Old Boy – Velho Amigo”.
Quem assistiu à cerimónia dos Óscares, pôde ver o coargumentista do filme, no seu discurso de aceitação do prémio para o melhor argumento original, a fazer referências a “Hallyuwood”, que será a Hollywood Sul Coreana.
Para além de realizadores, temos também atores Sul Coreanos a trabalhar em Hollywood, como Byung-Hun Lee (“Os 7 Magníficos” de Antoine Fuqua), ou Daniel Dae Kim (“Lost” ou “Hawaii Five-0”. “Hallyuwood”, assim como Bollywood, são os principais centros de produção cinematográficos a nível mundial, para além da Hollywood original, claro está. 
O filme deste domingo é um filme magistralmente construído, com um sentido apurado do ritmo narrativo e da quantidade de informação que deve dispensar ao espectador a cada momento.
Quase como brinde ao espectador, temos um exercício de virtuosismo cinematográfico, numa sequência verdadeiramente de antologia, em que vemos um duelo travado com o esguichar de líquidos de vária natureza.
Só esta sequência justifica uma ida à Recreio dos Artistas mas, para quem for, vai ser evidente que a surpresa de domingo passado não foi assim tão surpreendente.


Hugo Tiago

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