"ZEUS" | 24 NOVEMBRO | 21H30
Com a presença do realizador Paulo Filipe Monteiro.
ESTREIA NACIONAL
Recreio dos Artistas
Sinopse Manuel Teixeira Gomes, criado no sul de Portugal, diante do
mar, numa cultura muito árabe. No começo do século XX é um talentoso
escritor, muito sensual na sua prosa e muito livre nos seus temas quase
sempre eróticos. Em 1923 é eleito Presidente da República. O filme
começa nesses anos agitados: a ascensão do fascismo é o contexto
dramático das iniciativas de Gomes que, apesar das constantes revoltas
militares, consegue formar governos reformistas. E, de repente, Gomes
parte. Pede a demissão e procura o primeiro barco que sai de Lisboa. É
um cargueiro, chama-se Zeus e parte sem um passageiro
Zeus: Toda a gente morre.
Mas nem toda a gente vive.
‘Zeus’ é um filme sobre uma grande figura da nossa cultura e
da política, que permanece algo desconhecida, Manuel Teixeira Gomes. Um dos
mais ilustres escritores do início do século XX e um dos mais inteligentes e
cultos Presidentes da República Portuguesa (o sétimo, cujo mandato se estendeu
apenas de 6 de outubro de 1923 a 11 de dezembro de 1925).
Em 1923, um escritor de fina literatura erótica foi eleito
Presidente da República - caso único no mundo. Nesse seu curto mandato Teixeira
Gomes promoveu reformas, apoiou os trabalhadores, combateu a especulação
financeira e o fascismo em ascensão. No entanto, depois de vinte e seis meses
difíceis de presidência, Teixeira Gomes demitiu-se, dizendo: Já terminei com
isso. Qual é o primeiro barco a sair de Lisboa? Não dentro de um mês, agora!
Zeus? É um navio de carga? Não importa, para onde me vão levar. Não me importo
para onde vão. Deixo-vos sem um único papel, sem nada que possam lembrar-se da
minha vida como escritor ou como presidente. E assim, aos 65 anos, muda
totalmente a sua vida, para um voluntário autoexílio. Este homem muito elegante
e suave, possuidor de uma enorme coleção de arte — incluindo um quadro de
Rembrandt —, vai para o norte da África, encontra-se com os nómadas nos
desertos da Tunísia e estabelece-se na Argélia, onde morre 15 anos mais tarde,
confirmando a sua eterna admiração pelo estilo de vida e pela cultura dos
árabes. A sua vida dava, de facto, um filme.
‘Zeus’ é na verdade um cântico à vida, liberdade, coragem,
sensualidade, amizade e reconhecimento do Outro. Estruturado em três partes
entrelaçadas, cada uma delas filmada por um diretor de fotografia diferente,
‘Zeus’ dá-nos a conhecer a vida de Teixeira Gomes como presidente, vista como
um sombrio pesadelo; o começo de uma nova vida de sonho, cheia de luz, com as
montanhas e desertos da Argélia preenchendo o formato 2:35; e depois a
recriação de uma obra-prima da ficção erótica, que escreveu aos 77 anos no seu
quarto de hotel, inspirado nas cores de Matisse.
Sobre Manuel Teixeira Gomes
Manuel Teixeira Gomes (Vila Nova de Portimão, 27 de maio de
1860 — Bougie, Argélia, 18 de outubro de 1941) foi o sétimo presidente da
Primeira República Portuguesa de 6 de Outubro de 1923 a 11 de dezembro de 1925.
Foi uma das personalidades mais marcantes do século XX, embora permaneça
praticamente um desconhecido para a maioria dos seus concidadãos. Tinha as
qualidades de homem esquisito: precioso, raro, primoroso, elegante, requintado,
invulgar e excêntrico. Era sobretudo um artista e um homem de cultura.
Republicano, democrata e ateu convicto, Teixeira Gomes foi
um solitário e incansável viajante, que tanto visitava catedrais como galerias
de arte. A meio do mandato de Presidente da República, em dezembro de 1925,
quando o país atravessava uma forte contestação política e social, desiludido
com a política, como escreveu, demitiu-se do cargo, para se dedicar à
literatura. Como Presidente da República mostrou-se tão empenhado quanto cético
e cansado de políticos, militares e gente em quem não acreditava. Resolveu, por
isso, abandonaro cargo e o país a meio o mandato. A política, longe de me
oferecer encantos ou compensações, converteu-se para mim, talvez por exagerada
sensibilidade minha, num sacrifício inglório. Dia a dia, vejo desfolhar, de uma
imaginária jarra de cristal, as minhas ilusões políticas. Sinto uma
necessidade, porventura fisiológica, de voltar às minhas preferências, às
minhas cadeiras e aos meus livros.
Segundo o seu biógrafo, o historiador José Alberto Quaresma,
Teixeira Gomes, não raro se deixou guiar pelas mãos do acaso e foi um
‘comerciante de olho vivo, que acumulou fortuna e a esbanjou em todos os
prazeres. Frequentou o melhor do seu tempo, hotéis, restaurantes, botequins,
prostíbulos. Visitava insistentemente exposições, teatros, salas de concertos,
museus, bibliotecas. Colecionava com paixão inúmeras obras de arte. Falou e
escreveu sobre tudo sempre com enorme sensibilidade, humor e uma sólida
erudição e cultura. Embora pouco referenciado no ensino da História da
Literatura Portuguesa, Manuel Teixeira Gomes é, pelo seu engenho no manejo da
língua portuguesa, um dos maiores escritores da primeira metade do século XX.
Dissolve e recria na escrita, de forma insuperável, as paisagens e as vidas que
o emocionam, como assinala o seu biógrafo. Autor de uma obra literária
deslumbrante para os sentidos, como Sabina Freire, Gente Singular, Novelas
Eróticas, Regressos, Carnaval Literário, Agosto Azul, Inventário de Junho,
Cartas sem Moral Nenhuma, Londres Maravilhosa.
Paulo Filipe Monteiro
Actor, encenador de teatro, argumentista e professor da
FCSH/Universidade Nova de Lisboa. O seu primeiro filme foi a curta-metragem
‘Amor Cego/Três ao Tango’ (2005), 25 ', produzido pela Filmes Fundo.
Como argumentista, escreveu sete longas-metragens:
- ‘O Fim do Mundo’, de João Mário Grilo, seleccionado para o
Festival de Cannes 1993 (Un Certain
Regard);
- ‘Os Olhos da Ásia’, de João Mário Grilo, selecionado para
Festival de Locarno em 1996;
- ‘Longe da Vista’, de João Mário Grilo, seleccionado para a
Mostra de Veneza em 1998;
- ‘Contas do Morto’, de Rita Nunes, 2002;
- ‘451 Forte’, de João Mário Grilo, 2002;
- ‘A Hora da Morte’, de José Nascimento, 2002
- ‘Os Sorrisos do Destino’, de Fernando Lopes, selecionado
para a Mostra de São Paulo em 2009.
Escreveu a série de 10 episódios ‘A Viúva do Enforcado’,
adaptada do romance do século XIX de Camilo Castelo Branco, dirigido por Walter
Avancini (SIC, 1993).
Como ator, participou em 10 longas-metragens em português e
espanhol e em 40 séries de TV ou filmes de várias nacionalidades. No teatro ele
dirigiu 16 peças, sendo a última ‘As Mil e Uma Noites’, 2006.
"Zeus" é a sua primeira longa-metragem como realizador.
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