A Propósito de "Primavera Tardia" | a ser exibido esta tarde | texto de Hugo Tiago)



Primavera Tardia 

Na preparação para o Lisboa, Capital Europeia da Cultura em 1994, os responsáveis pela organização do evento convocaram o cineasta Wim Wenders para a realização de um documentário sobre Lisboa. 

O alemão, que começou por ser crítico de cinema, à semelhança de Godard, Truffaut ou Bogdanovich, e que vinha de uma sequência de grandes sucessos de crítica e de público, como “Paris, Texas”, “Nas Asas do Desejo”, “Até ao fim do Mundo” ou “Tão Longe, Tão Perto”, era já um profundo conhecedor do nosso país, onde tinha filmado “O Estado das Coisas”, e uma sequência do “Até ao fim do Mundo”. 

O projeto começou por se intitular “Lisboa Monogatari”, numa referência direta a um dos mais belos filmes da história do cinema: “Tokio Monogatari”, de Yasujirô Ozu (sobre quem Wenders tinha realizado o documentário Tokio-Ga). 

O filme sobre Lisboa deixou de ser um documentário, mas manteve o caracter de homenagem a Lisboa, e ao cinema, e passou à história com o título “Lisbon Story” (Viagem a Lisboa), e nele podemos encontrar Manoel de Oliveira e os Madre de Deus. 

Mas voltemos a “Tokio Monogatari”, e, sobretudo, a Yasujirô Ozu. 

Estamos perante um dos mais influentes autores de uma cinematografia que nos apresentou Mizogushi, Kurosawa, Nagisa Ôshima ou Shôhei Imamura. Uma cinematografia que consegue ser profundamente nacional, e ao mesmo tempo adaptar textos clássicos de Shakespeare; que consegue inspirar remakes feitos em Hollywood (“Os Sete Magníficos” ou “Vamos Dançar”), enquanto se apropria dos modelos de produção ocidentais e os leva mais longe do que alguma vez foi conseguido (veja-se o trabalho de animação dos Estúdios Ghibli). 

O filme que nos preparamos para ver esta tarde, “Primavera Tardia” é um clássico do cinema, realizado em 1949 por Ozu, após a ter sido soldado do exército imperial Japonês durante a Segunda Guerra Mundial, e a sua experiência como prisioneiro de guerra num campo de prisioneiros à guarda do exército americano. 

É nesta fase da sua carreira que Ozu se centra em temas do dia-a-dia, relacionados com a vida comum dos japoneses, filmando de uma forma cada vez mais depurada, num estilo muitas vezes imitado mas nunca igualado (por Manoel de Oliveira, por exemplo). 

Neste filme vamos encontrar um viúvo, que desde há muito vive só, com a sua filha já adulta. Sabemos que é um professor universitário, mas não sabemos exatamente o que ensina, ainda pelo desenrolar da ação ele cite Friedrich List, emérito economista, e surja a manusear um livro de Nietzsche. A filha é solteira, e é o seu eventual casamento que constitui o enredo desta história. 

Não é usual o Cine-Clube exibir clássicos da história do cinema como este “Primavera Tardia”, que chega até nós após o trabalho de restauro das principais obras de Ozu, e posterior relançamento no mercado. 

E é, seguramente, de aproveitar.

O FILME SERÁ EXIBIDO HOJE (24 FEVEREIRO) PELAS 18H00 | RECREIO DOS ARTISTAS

Hugo Tiago, sócio e membro do Cine-Clube 

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